A Quimbanda não é simplesmente mais uma das linhas
existentes dentro dos cultos afro-brasileiros; suas influências não são somente
Bantu, Nagô e Yorubá, também abrangem em larga escala vários aspectos da
Religião Indígena, Católica, o Espiritismo moderno, a alquimia, o estudo
da natureza fundamental da realidade e Correntes Orientais.
É importante lembrar que o sincretismo entre Exu e
o Diabo existe, salvaguardando várias confusões ao verificar que atualmente
muitas pessoas pensam que a Quimbanda é um culto satanista, tendo aquele
sentimento de dualidade aonde as pessoas vêem o bem e o mal em uma luta eterna
confundindo a figura do Diabo com tudo de ruim sem lembrar que Ele já teve seu
martírio e foi vencido por Deus que é Quem determina o espectro e a liberdade
de Suas ações desde o princípio dos tempos. O conceito de polaridades, positiva
e negativa não se encaixa no plano material, aonde não quer dizer o mesmo que
atitudes, positiva e negativa, principalmente tratando-se de energia pura. É
como disse o sábio preto velho Vô Chico Quimbandeiro, falando da importância
dos Exus, apontou uma lâmpada e disse: “Aquela é resultado do perfeito encontro
entre o positivo e o negativo”.
É bom deixar claro também que o Exu da Quimbanda
não é o mesmo Exu do Candomblé aonde Ele é um Orixá menor da cultura Yorubá, o
Exu da Quimbanda é geralmente um Egum (antepassado), sendo que na maioria dos
casos é a Alma de alguém que pertenceu ao culto, conscientemente ou não, e
agora trabalha como mensageiro dos Orixás, como Exu; mais ou menos o mesmo que
ocorre em outras Linhas e Bandas dedicadas a algum Orixá, por exemplo como na
Linha de Ogum trabalham Espíritos de Índios e Negros que em vida foram
guerreiros, usaram espada e de alguma forma pertenceram ao culto, como sabemos
que Seu Ogum Sete Espadas e Ogum Sete Ponteiras do Mar não são o mesmo que o
Orixá maior Ogum.
Os Espíritos, Exus, com os quais estamos tratando
tiveram em sua maioria encarnações aqui na Terra em finais do século XIX e
princípios a meados do século XX, daí vêm as suas vestimentas e a forma de seu
comportamento.
Ainda na questão do sincretismo é muito importante
frisar que os autores que até hoje discorreram sobre o assunto usaram um
organograma básico para apresentar o que muitos pensam ser a verdadeira
organização hierárquica da Quimbanda mas é somente a cópia de um livro antigo
de evocação e cultos diabólicos da cultura ocidental que fala sobre os
demônios, suas hierarquias e poderes, o “Grimorium Verum”. Considerando que
este livro já existia muito antes do descobrimento do Brasil e que a Quimbanda
como conhecemos é uma religião brasileira afirmo que é errado basear-se neste
organograma como base para estudarmos este assunto porém não devemos esquecê-lo
pois os Exus, como nós, tiveram já várias encarnações, alguns inclusive viveram
nos primórdios da nossa civilização como por exemplo Exu Tata Caveira que foi
um Sacerdote no Egito antigo ou inda mais longe Exu
Caveira que a 30.000 anos atrás era um nômade bruxo e curandeiro, outrora estes Espíritos já trabalharam no plano
astral nesta mesma Linha e alguns até ajudaram a escrever o “Grimorium”, agora
pagam o Carma. O Exu quando presta caridade também evolui, além dEles nos
ajudarem, através do trabalho, estamos ajudando-os a atingirem grau maior de
evolução.
A Umbanda não vive sem a Quimbanda, como a árvore
não vive sem a copa ou sem a raiz, então com base em estudos e prática na
Quimbanda podemos afirmar que o culto como o conhecemos é o mesmo praticado na maior
parte dos Terreiros de Umbanda do Brasil que para obterem equilíbrio em seus
trabalhos cultuam as Sete Linhas da Umbanda e as Sete Linhas da Quimbanda,
desta forma podemos discorrer aqui sobre o assunto de uma forma mais ampla e
que leve a implementar os atuais conhecimentos sobre os Exus. Quimbanda não é
sinônimo de satanismo e de jeito nenhum pode ser ligada a obscuridade é apenas
um termo usado no Espiritismo é uma forma de estar na vanguarda do Espiritismo
e da magia trabalhando a espiritualidade como um todo, uma ferramenta destinada
a evolução espiritual através do poder e dos conselhos destes nossos guias
protetores, os Exus, que tanto nos auxiliam nas horas de aflição. Embora não
devamos julgar sabemos sim que lamentavelmente existem pessoas inescrupulosas e
de má índole que usam a magia da Quimbanda para a prática do mal mas isto é
culpa exclusiva do homem e não das entidades, não podemos culpar o veneno por
matar e sim aquele que o utiliza como arma, não podemos culpar o Exu por fazer
o que lhe é pedido mas sim quem se aproveitou deste contato espiritual para
pedir que praticasse o mal. Nunca podemos esquecer da imutável Lei do Karma,
tudo o que você fizer volta pra você.
Existe muita confusão a respeito do termo Macumba e
acho importante esclarecer isto, este nome deriva do Banto “ma-quiumba” que
quer dizer espíritos da noite, também este nome era usado no sul do país para
definir mulheres negras no tempo da escravidão, por isso o uso do nome ainda
hoje é usado de forma preconceituosa por pessoas ignorantes a respeito do
assunto. Outra versão; Macumba era uma flauta fabricada na Bahia e o vendedor
era chamado de macumbeiro. A Macumba pelo que sabemos é o mais primitivo culto
sincretista do Brasil e originou-se na região sul dada a sua maior
predominância da nação Banto, é desta nação que descendem a maior parte dos
cultos afro-brasileiros com influências da Igreja Católica, Indígenas e das
nações do Congo, Angola e Nagô. A principal razão do culto ser denominado como
Macumba foi justamente por motivo de os rituais serem realizados à noite em
razão de os trabalhos serem feitos com Eguns e porque durante o dia os negros
trabalhavam sem descanso, vem daí a interpretação errada do ritual pelos
leigos, os negros que praticavam a Maquiumba ou como ficou conhecida Macumba
eram geralmente menosprezados, perjuriados e mal interpretados pelos que os escravizaram
em razão de sua fé. A Igreja também condenava estes cultos com influências
indígenas ou africanas dizendo que praticavam beberagens e até orgias. É
verdade que as entidades bebem e até pitam e que as curimbas, danças, as vezes
são bastante sensuais mas venhamos e convenhamos que entre isto e orgias e
beberagem há uma grande diferença. Quando os grupos de nações começaram a
procurar e a valorizar mais a sua natureza e identidade cultural é que a
Macumba se dividiu, surgiu então o Candomblé de Angola, o Candomblé do Congo, o
Candomblé de Caboclo ou dos Encantados e o Catimbó, no final do século XIX
surgiu a Macumba Urbana que tinha participação de brancos pobres e descendentes
de escravos; finalmente no inicio do século XX surgiram a Umbanda e a Quimbanda
com uma forte influência do Espiritismo e com o sincretismo religioso.
A formação da Quimbanda teve uma forte influência
dos escravos e índios que sincretizaram Exu com o Diabo por este ser “inimigo
dos brancos” e por não aceitarem os Santos Católicos, identificando-se assim
mais uma vez com o Diabo. Com o advento da Umbanda começou o trabalho de
Quimbanda em Terreiros de Umbanda o que deu sustentação firme aos trabalhos com
os, “Compadres”, Exus e assim formatou-se o atual culto da Quimbanda. Na verdade
pode-se dizer que a Quimbanda como a conhecemos atualmente nasceu juntamente
com a Umbanda em 15 de novembro de 1908 pois uma Linha completa o outra
formando esta força que nos da vida e este reino cheio de luz.
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